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a palavra

Temo ser invadida pela minha própria palavra.
Consumida, fraca, mergulhada numa surdez atenciosa,
E num encantamento qualquer.
Não diria que me assustam as minhas letras,
Porque certamente depois de tantos repentes,
Tantas palpitações e pulos de afastamento,
Eu tomaria jeito e as faria parar.
Diria que as letras, pois bem, me surpreendem.
Surpreendem porque me conhecem e,
Ignoram minhas teimosias, revelando a mim quem sou.

E enquanto meus cadernos tomam conta do quarto,
Enquanto meus tinteiros secam,
Enquanto perco papéis debaixo da cama,
Enquanto a luz da vela permanece acesa
-iluminando o cômodo, construindo sombras-
Pajeando o trabalho das mãos cansadas sobre o papel,
O meu coração cheio de letras em estado de fervura,
Esperando pra nascer,
Alivia.

As palavras que me têm por completo e,
Não o inverso.
Relação de temor e paixão.
Esconderijo e exibições.
Sonho e desejo.
Se as palavras precisam de mim pra nascer,
Eu, recolhida na condição de travessia,
Confesso que preciso delas pra me manter viva.



Comentários

Pessoa número 7 disse…
Seus poemas são sempre uma graça! Tu é iluminada, menina!
Mila S. disse…
Não me surpreendes tua perfeição com as palavras, não sabes o quanto me orgulho de ti, Marina.
Com este pequeno textos disse tudo e mais um pouco...
Muito bom.
Saudades, Mila