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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Fado e Vela

Num sobressalto, a vela sobre a mesa de madeira quis ser a lâmpada lá do alto do mezanino. Já não queria mais estar presa à superfície plana: almejava, enfim, contato com a eletricidade que parecia tão surreal e mais que tudo, queria se ver livre da sensação de ser a última escapatória: nas noites chuvosas, quando acaba a luz da cidade, então as pessoas recorrem a acendê-la, brincam de adivinhar sombras nas paredes e passado algum tempo, ainda reclamam da pouca luz que ofusca. Pois era só a luz voltar para que a deixassem no seu posto de destino irrevogável: prisão à superfície. Estava decidida: “Quero ser lâmpada”. Desde então se tornou cera vazia, cera triste... Escorrendo tão devagar, quase falida. Eis que a lâmpada queimou e jogaram-na no lixo, despudoramente. Fado. A vela se sentiu ruborizada de tanto disparate: enquanto passou dias a fio negando sua natureza, não pôde perceber que suas marcas de cera ficariam para sempre, grudadas na madeira.