No carro,
voltando pra casa,
em boa companhia.
Cansados,
em silêncio,
entardecer.

Ali na estrada, chão após chão, horizonte e cheiro de asfalto, o silêncio nos permitiu conversas reais e intensas. Intimidade e conforto em sua forma mais presente, contemplativa.
{ estávamos emudecidos por fora, verbo vivo por dentro }
Olhávamos para os contornos das árvores secas de inverno, que pregadas nos vales verdes, encostavam-se na Rodovia. Reparávamos em todas as cores que o céu desenhava: espetáculo que impressiona com seus roxos, azuis, alaranjados e mais, mais, mais...
{ estávamos emudecidos pelos colos, abraços, carinhos e risos }
De vez em quando alguém dizia: "Que lindo isso" e nesse consentimento, não sei se passamos minutos ou horas, mas tanto faz.

{ estávamos emudecidos pelo encontro }
Recordo este instante, nomeio nosso “além”.
Sinto que estávamos aproveitando ao máximo esse espaço onde podíamos simplesmente ser. Sentíamos o afeto gratuito que nos preenche, independente do que temos a oferecer, do que dizemos, do que fazemos...
{ estávamos emudecidos pela certeza }
De que nos conhecemos sem julgamentos, de que podemos compartilhar segredos, pensamentos profundos ou bobagens triviais com a mesma confiança. De que podemos inclusive, nos entregar de alma sem perder nenhum pedaço.
{ estávamos emudecidos pela liberdade }
Tantas pessoas já olharam pra nós com pressa demais, tentaram nos ler como se fôssemos uma tirinha de gibi de três quadros... Que fiquem com suas construções rasas e idéias insossas, enquanto a vida segue fervendo de sabor. A verdade é que somos seres inteiros, independente da velocidade dos olhares, independente dos recortes que fazem da gente.
}} estávamos emudecidos pela simplicidade desconcertante da vida {{
Para Alexandre, Catarina e Beatriz.
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