Para ler ouvindo:
Sei quase nada de passarinhos.
Eles sabem quase nada de mim também.
Somos um para o outro, puro mistério, doce dúvida, mútua surpresa...
Ainda assim, sinto-os tão perto. Ouço-os tão fundo. Amo-os tão largo!
Toda manhã quando a corruíra canta, é como se reinasse absoluto sentido, depois da longa e impetuosa atmosfera onírica.
É como se o meu espírito tivesse som e minha alma, asas.
Nesse prelúdio da Revolução, a corruíra canta a liberdade, celebra a convivência, veste-se de simplicidade... Existe. Pura e grandemente.
Onde moram as corruíras? O que elas fazem pra sobreviver? O que as corruíras querem comprar?
...
Elas não sabem não, mas me ensinam cada vez mais a perguntar menos.
Acho graça nisso. Gosto de pensar que nem toda tecnologia do mundo, nem a máquina mais inteligente, é capaz de criar uma corruíra. Me conforta e esquenta o coração.
Gosto de pensar que as corruíras não se preocupam com a morte, ou com o medo, ou com o tédio, porque são vivas, confiam e ousam. São seres do Sol, criativos...
Gosto de pensar que as corruíras não se preocupam com a morte, ou com o medo, ou com o tédio, porque são vivas, confiam e ousam. São seres do Sol, criativos...
{ Daqui muitos anos, toda vez que eu ouvir o canto da corruíra, vou lembrar o gosto do café, o cheiro do pão quente, o barulho das folhas no quintal, a luz entrando pela janela, o primeiro abraço do dia. }
Sei quase nada de passarinhos. Mas ouvindo-os todos os dias, sei bem o que é gratidão.
"Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que as dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios."
Manoel de Barros
Obrigada, menino-pássaro, seu encanto pelo mundo me encanta.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor os meus silêncios."
Manoel de Barros
Obrigada, menino-pássaro, seu encanto pelo mundo me encanta.
Comentários
Gostei do texto, não conhecia....
[]s