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Mostrando postagens de 2012

sonhos lúcidos

menina marota, sonhei contigo. na fantasia eras tão jovem, como do jeito que te conheci. como do jeito que ficaste dentro de mim. estavas sentada ao canto, com o olhar longe e os cabelos simetricamente arrumados. { agora o que sei a teu respeito? nem sei mais se perdes tantas horas do dia organizando as mechas morenas } me pego pensando se ainda conservas contigo tuas convicções tão viscerais. se ainda tens aquela mania de fazer piadas infames e virar de costas, fugindo de mim. se tuas mãos continuam as mais macias do Universo ou se já se tornaram ásperas como um rosto que desacredita na vida. mas principalmente: se continuas a confiar na tua escrita e, se ainda possuis um certo caderno de poesias. { espero que sim, pois me deste de herança em tempos remotos } tua imagem é tão viva em mim. lembro dos trejeitos, do perfume, da juventude ardente, das roupas pretas, da tua voz cantando pra mim e ao telefone na madrugada, do violão doce, da lua, da calçada da minha rua e você

passagem das minhas horas

Quanto sentido vivido intensamente, bem além da palavra... Gratidão, gratidão... pelas grandes dores e pelos infinitos prazeres do viver. Passagem das horas - Álvaro de Campos  "Não sei sentir, não sei ser humano, não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens, meus irmãos na terra. Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido. Eu vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo. Mas tudo sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri. Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos. E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse. Amei e odiei como toda a gente. Mas para toda gente isso foi normal e instintivo. Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo. Eu não sei se a vida é pouco ou demais para mim. Eu não sei se sinto demais ou de menos. Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos, a vida chega a doer, a

PARA MUITOS DE MIM

Memórias fragmentadas, já gastas pelo passar dos dias efêmeros, trechos de vida que ficam líquidos diante da história da minha origem. Lembro do cheiro do café invadindo a sala pequena e do gosto doce das laranjas depois de serem descascadas pelas suas mãos calejadas de trabalho. Parecia que o mundo era tão bonito quando as tardes passavam regadas à cana minuciosamente dividida entre todos os primos, que ali, naquele quintal eram todos "fios" e "fias"... E o bolo de chocolate macio, sempre dando boas-vindas à casa que já foi extensão de mim? Era sempre infinito, porque continha o amor da acolhida e a simplicidade do cuidado. Quantas vezes corri pelos corredores para que você não pegasse meu amarrador de cabelo (o que era totalmente em vão devido a minha pequenez)? Como eu gostava desse jeito sutil e espontâneo de ser amada. Você sorria e me devolvia, já indicando que a corrida ia recomeçar em breve, neste rito de cumplicidade único e singular. (Não sei

gratidão e kairós...

Ao som de:  Lis olhou por cima do viaduto e fingiu ser a única pessoa viva no mundo. Fechou os olhos e seguiu o rumo do vento, deixando os cabelos dançarem... Sentiu foi é gratidão. Lembrou de uma música triste e de como já chorou pela estranheza do mundo... Vai ver a gratidão é mesmo um acalanto choroso, de cheiro doce, melodia tranquila e de lembranças ácidas. Lis teve seu momento de epifania ali, no meio da multidão sem rosto, com os pés cansados de subirem e descerem para lugar nenhum. Sorriu espantada por ter o coração sereno no meio da orquestra do caos. A vida nem sempre foi carinhosa. Todo pranto calado e todo grito estancado foram caminhos necessários para fortalecer o espírito e perceber que a felicidade enfim, não é um estado que oscila de acordo com a gentileza do mundo. Lis viu que há algo dentro dela que está sempre lá, a felicidade pura e lapidada, que construiu ao longo dos tempos com carinho, açúcar e muita vontade.  É esse sentimento ex

meu sangue latino.

"nem sonhos perigosos, nem promessas traídas, nem esperanças estilhaçadas [...] onde estão? estão esperando por nós?" |tocante, inspirador, sensível, mexeu com sensações muito primitivas, com origem, com afeto, com minha própria lucidez | / e de um jeito... "Rompi tratados Traí os ritos Quebrei a lança   Lancei no espaço   Um grito, um desabafo. E o que me importa É não estar vencido Minha vida, meus mortos Meus caminhos tortos Meu Sangue Latino Minh'alma cativa..." Ney M. / "... ser capaz de olhar o que não se olha, mas que merece ser olhado, as pequenas, as minúsculas coisas da gente anônima (da gente que os intelectuais costumam desprezar). Esse micro-mundo onde eu acredito que se alimenta de verdade a grandeza do Universo..." Galeano.

SEM VOLTA

Dentre todas as consequências que "olhar para dentro" pode imprimir em uma vida acredito que a mais impactante é o fato de ser um caminho sem volta. É difícil de encarar que quando você conhece algo seu e se apropria daquilo a ponto de dizer: "isto faz parte de mim" , não dá mais para esquecer, ignorar, jogar fora ou deixar no banco de algum trem sem rumo... Você é convocado a  lidar com esta coisa nova, surpreendente, assustadora e linda da tua vida.  O princípio do recuperável é válido: há muitas palavras tortas perdoáveis, há muitas situações desagradáveis reversíveis sim. Afinal, a vida seria tragicamente entediante se todas as coisas fossem imutáveis e causais... Mas uma coisa eu digo: depois que você começa a se conhecer, gostando ou não daquilo que você encontra, não dá mais para voltar ao marco zero, ao estado inicial, ao desconhecimento total e livre de si. As vezes até dá vontade. A gente pode até pensar secretamente: "Ah, se eu não soubes