Pular para o conteúdo principal

t o d o d i a


Eles nunca se falaram.

Um casal de velhinhos que transpira jovialidade escondida atrás das rugas e do grisalho, pega ônibus comigo todos os dias. Sentam sempre no mesmo banco e me falam o mesmo 'bom dia' cordial com tons e volumes iguais, soando querer um pouco de atenção.
O ônibus azul boreal, sereno-paraíso da paulicéia desvairada.
Ele está sentado, num silêncio mortal, com o olhar vago, estático... Não vê prédios, não vê Sóis, a sós, nós desatados, nós todos ali dentro, ninguém.
Quando ela entra no ônibus, o olhar desperta, ele se levanta para ela passar e se apossar do lugar que ele guardou como um tesouro. Que tesouro.
Ela sorri gentilmente.
Trocam olhares durante a viagem e posso apostar que querem dizer:
"Hoje temos trânsito. Que bom."
...
Quando o estado de vigília se torna pesado e o sono toma conta do pescoço e se alastra pelo corpo todo, ele encosta, meio sem querer, a cabeça no ombro direito dela, sente seu perfume de boneca de porcelana antiga. Sem graça, ela não reclama, nem aceita. Talvez não diga nada para não estragar esses momentos preciosos da manhã que a acompanham pelo dia todo. É assim há anos a fio.
Se conhecem, conversam horrores e é incrível:


Eles nunca se falaram.



-------------------------------


"-Dance with me?
-We can not dance in the street.
-We can dance in the street!



{dom, doron.. dom dom.. } "







-------------------------------



Hoje eu Acordei Cheia da Sua Ausência
E Com uma Saudade Cutucante.

Teu Barulho Perfurando o meu Silêncio,
Teu Olhar Vivo nas Paredes
{Piscando Quando eu Olho, Calando Quando eu Quero}
Eu Apago a Luz, Você não Some,

Tua Promessa Grita,
Teu Nome Lateja,
Tua Persistência Persiste.
Nossa Sincronicidade Continua Eficaz.

Pode Correr, Anja,
É Aqui Mesmo que Você se Largou, se Deixou.
Deixa um pedaço
{Um Cheiro, Uma Voz}
Só Pra eu Lembrar de Vez em Quando,
Quando a Saudade Cutucante Quiser, no Susto,
Cutucar Novamente.


à Yumi.
(saudades da japa!)



-------------------------------


Cheiro de baunilha hoje.
//

embalada por: I Walk The Line {Johnny Cash

Comentários

Éber disse…
Gostei do primeiro texto, seria algo como aquelas idéias que surgem com base no 'day after day' ou algo que lhe surgiu à sua louca e insana mente psicótica? =P
Em todo caso, realmente ficou bacana, agora vou ler os demais
;*
Éber disse…
Parabéns pelos textos e parabéns pela "periocidade' com que você vem mantendo o blog. Queria eu ter esse pique e as idéias.

Double post, rules, okays?
;*
Unknown disse…
Gostei muito dos velhinhos que te acompanham imaginariamente (ou não) nesse ônibus. :) É claro, eles não teriam o menor encanto caso não conseguiste passar o momento para o papel; ótimo texto! Obrigado pelo link, me sinto honrado :)
Pessoa número 7 disse…
É tão bonito...
romances calados são sempre impressionantes.

Velhinhos tem uma sabedoria.... haha!
A gente tagarelaria ou não deixaria encostar, sei lá....
Marina Cruz disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Clara Mazini disse…
Paulicéia desvairada. Que bonito. Que saudade dessa terra-de-tanta coisa.

Ótimas, as tuas letras. Te lickarei, também. Uns beijos.
Kamila Silva disse…
Nossa, como eu amo estes momentos, simples e despercebidos por olhos rapidos, mas encontrados pelos mais observadores, aqueles momentos pequeninos e que normalmente não teriam atenção nenhuma, mas que esta ali mudando nossa vida e a posicionado a seguir determinada direção?!
Amei..rs